6 de fevereiro de 2016
“A primeira vez que pus um
biquíni e vi minha barriga chapada fiquei tão orgulhosa que decidi continuar
fazendo todo esforço possível para ser saudável”, lembra a americana Kaila
Prins, 29 anos, de San Jose, Califórnia. Em entrevista a CLAUDIA, essa
profissional de marketing que mantém um blog sobre transtornos alimentares, In
My Skinny Genes (Em Meus Genes Magros, em tradução livre), contou como
enfrentou a ortorexia nervosa. O termo vem de orto, que significa correto, e
orexis, apetite, e se refere à preocupação exagerada com alimentação saudável.
Apesar de não ser uma doença oficial, descrita nos manuais médicos, tem sido
vista com frequência nos consultórios.
O problema de Kaila iniciou-se em
2001, quando, aos 13 anos, ela teve uma reação alérgica nas pernas. Alertada
pela mãe de que poderia ser por causa da soja, parou de consumir o grão.
“Comecei a ler rótulos e percebi que a maioria dos produtos industrializados
trazia esse ingrediente. Daí, decidi cortar aquela ‘comida lixo’ e preparar
minhas refeições saudáveis. Paralelamente, passei a fazer exercícios físicos.
Emagreci tanto que cheguei a 43,9 quilos (para 1,62 metro de altura).”
Pessoas com ortorexia nervosa
excluem do prato alimentos considerados impuros por conter agrotóxicos,
conservantes, corantes, gordura trans, gordura, açúcar e, mais recentemente,
glúten e lactose – muitas vezes sem ter a intolerância comprovada. Também é
comum desenvolverem rituais quanto à forma de preparo e aos utensílios
utilizados. “Com isso, a dieta fica limitada, monótona e pobre em nutrientes.
Não há uma substituição adequada do que foi excluído”, explica a médica e
nutróloga Maria Del Rosario Zariategui, diretora da Associação Brasileira de
Nutrologia.
À medida que restringia a
alimentação, Kaila intensificava a rotina de treinamento. No ensino médio,
tinha sido capitã do time de cross country (um tipo de corrida em grupo) e, na
época da faculdade, além de correr 3 quilômetros toda manhã, ia para a
academia, onde levantava peso e fazia mais atividade aeróbica. Sua alimentação
compunha-se apenas de aveia, brócolis, feijão-preto, duas maçãs e dois bolinhos
de arroz. “Muita gente vinha me cumprimentar por minha força de vontade. Eu
realmente achava que estava fazendo a coisa certa.”
Esse é o grande complicador: o
limite entre o cuidado sadio com a qualidade de vida e a ortorexia é tênue. Por
estar atrelada a uma argumentação de bem-estar, ela pode passar despercebida,
alerta o psiquiatra Marcelo Papelbaum, do Grupo de Obesidade e Transtornos
Alimentares do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Mas há um diferencial importante: “Ainda que o zelo com as refeições
consuma muito tempo e energia, o resultado é uma alimentação caótica, baseada
em crenças que nem sempre têm fundamentação científica”.
Em 2009, por influência de um
namorado, Kaila introduziu proteínas no cardápio, como suplementos à base de
soro do leite e caseína, peito de frango e peru grelhado, queijo cottage e
iogurte grego. “Fiquei magra, com músculos definidos e mais obcecada por dieta
e exercícios.” Os impactos negativos começaram a aparecer. Um amigo a levou a
uma pizzaria e depois ao teatro. Kaila comeu apenas um pedaço de pizza e passou
o espetáculo inteiro se culpando por não ter resistido à tentação. “Você sente
o medo, cada vez mais forte, de que um deslize estrague tudo. Orienta-se por um
senso de justiça moral que se manifesta pela crença de estar literalmente
afastando a morte ao abolir ‘alimentos sujos’. Essa se torna sua identidade,
sua consciência.”
A essa altura, Kaila já não
menstruava, estava com ossos frágeis e arritmia cardíaca. Abandonou o mestrado
por não conseguir se concentrar nos estudos. E foi se fechando cada vez mais. O
isolamento social é outra pista relevante de que algo está errado, diz a
nutricionista Adriana Kachani, voluntária do Instituto de Psiquiatria da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Para não sair da dieta, a
pessoa abre mão de confraternizações e festas familiares ou vai e leva a
própria marmita.” Esquece que a alimentação precisa ser variada e equilibrada e
não se resume à ingestão correta de nutrientes. Como destaca o Guia Alimentar
para a População Brasileira, de 2014: “As dimensões culturais e sociais das
refeições também influenciam a saúde e o bem-estar”.
Deprimida, Kaila tentou o
suicídio. Voltou para a casa da mãe e começou terapia. “Percebi que a ansiedade
me prendia a esse padrão de ‘comida limpa’, mas não sabia como parar.” Até que
se deparou com o livro Health Food Junkies (“O vício em comida saudável”, sem
tradução no Brasil), do médico americano Steven Bratman, que cunhou o termo
ortorexia em 1997. “Li de ponta a ponta. Então compreendi que, se continuasse
‘saudável’ daquele jeito, poderia morrer. Foi a primeira grande faísca que
acendeu em mim a chama da recuperação”, conta Kaila. Ela procurou
auxílio. O tratamento deve ser feito por
uma equipe multidisciplinar especializada em transtornos alimentares.
Aos 29 anos, Kaila ainda se
preocupa em fazer escolhas saudáveis à mesa, mas sem exageros. “Como de tudo,
não conto calorias nem pergunto que óleo foi usado no preparo. Quando vou a
restaurantes com amigos, não fico pensando em reforçar a malhação ou limitar as
refeições para compensar no dia seguinte. Hoje sou mais feliz e saudável do que
em qualquer outra época. Encontrei uma vida além da comida.”
Fonte: rcnews
Postado por: Lins Neto
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