1 de novembro de 2010
A presidente eleita Dilma Rousseff começará seu mandato com a maior base de apoio no Congresso Nacional desde a volta das eleições diretas para presidente, em 1989. O desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de formar uma base ampla foi cumprido com a eleição de ao menos 372 deputados e 60 senadores aliados – mais do que os três quintos necessários para aprovar mudanças na Constituição.
Dilma Rousseff ao votar domingo em Porto Alegre
O PT foi bem sucedido na estratégia de sacrificar candidatos ao governo em Estados importantes para ter a garantia de apoio do PMDB e conseguir a maioria no Congresso. Dilma tende a ter mais facilidade para negociar a maioria com outros partidos depois de eleita, como Fernando Henrique Cardoso e Lula tiveram que fazer em seus primeiros mandatos.
A habilidade de Dilma para lidar com desejos dos congressistas é uma incógnita, mas aliados dizem que a ajudarão nesta tarefa. Michel Temer (PMDB), vice-presidente eleito, foi presidente da Câmara por três vezes e já ajuda a acalmar os ânimos do Congresso e, principalmente, do PMDB, segunda maior bancada da Casa. Temer articula o revezamento entre PT e PMDB na Presidência das duas Casas legislativas nos próximos quatro anos.
Lula também disse que deve auxiliar a candidata no diálogo com outros políticos. O próprio presidente já afirmou, em entrevista que estará de “prontidão”. “Não vou permitir que tentem fazer com ela todas as sacanagens que tentaram fazer comigo” disse. Ele se referia a derrotas que teve no Congresso Nacional. A pior, segundo ele, foi a derrubada da CPMF em 2007.
• Conheça a trajetória de Dilma Rousseff
Ainda assim, é consenso entre especialistas que a maioria de Dilma no Congresso não é por si só garantia de uma governabilidade sem restrições. A petista terá o desafio de reorganizar a estrutura de cargos no governo, de maneira a contemplar novos aliados e acomodar os interesses de todos os partidos que a ajudaram na campanha presidencial. Além disso, a petista terá, naturalmente, de lidar com os dissidentes das bancadas aliadas, desafio enfrentado também por Lula.
Reformas
Durante a campanha, Dilma se disse a favor de reformas, como a tributária e a política, mas não deu prazos para o envio de projetos ao Legislativo. Ela se resumiu a afirmar que essas mudanças ocorrem mais facilmente no início dos mandatos.
Sobre a reforma tributária, disse que ela é a “mãe de todas as reformas”, mas não definiu detalhes da proposta. Já a reforma política defendida pela candidata inclui financiamento público das campanhas, voto em lista e “reforço dos partidos”.
Evangélicos
A legislação sobre o aborto, tema discutido exaustivamente na campanha, dificilmente sofrerá modificações na próxima legislatura. A candidata disse, durante a campanha, que não deve propor modificações na lei sobre o assunto.
A posição expressada pela candidata vai de encontro ao desejo da bancada evangélica, que teve um aumento no seu número de parlamentares. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o número de deputados e senadores ligados a igrejas evangélicas cresceu de 43 para 66 na nova legislatura.
Dilma e a bancada têm opinião distinta em outro ponto. A candidata já disse ser favorável à união civil entre homossexuais, rechaçada pelos evangélicos no Congresso. Somente um parlamentar assumidamente homossexual foi eleito nesta eleição, Jean Wyllys (PSOL-RJ).
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