26 de setembro de 2017
Levantamento inédito feito pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) revela que apenas três
em cada dez brasileiros na idade adulta praticam atividades físicas e
esportivas com regularidade. O levantamento mostra ainda que os homens praticam
atividade física 28% a mais do que as mulheres e as pessoas com maior renda têm
mais acesso à prática esportiva.
De acordo com o Relatório de
Desenvolvimento Humano Nacional 2017 - Movimento é Vida: Atividades Físicas e
Esportivas para Todas as Pessoas, em 2015, 37,9% dos brasileiros entrevistados
disseram praticar esporte. Entre os homens, o índice ficou em 42,7% e entre as
mulheres, em 33,4%. O Distrito Federal (50,4%) é a unidade da Federação em que
as pessoas mais praticam atividade física, enquanto Alagoas (29,4%) tem o menor
percentual.
“Os dados analisados reforçam a
compreensão de que realizar atividade física e esportiva não se restringe somente
a uma decisão individual, mas é também produto de como a sociedade pauta a vida
coletiva. Isso significa que aconselhar os indivíduos a praticar mais
exercícios, sem criar oportunidades efetivas para as pessoas se engajarem com
as práticas, nem enfrentar os condicionantes sociais que limitam o
envolvimento, dificilmente mudará o cenário”, diz o relatório.
O levantamento, que traz dados
sobre o perfil da prática esportiva no Brasil, faz recomendações aos governos
nas áreas de saúde, educação, esporte e desenvolvimento humano. De acordo com o
Pnud, a intenção do estudo é “contribuir para o aumento das práticas esportivas
de modo a oportunizar patamares mais elevados de desenvolvimento humano para
todas e todos".
Segundo o estudo, ser homem,
jovem, branco, sem deficiência e de alto nível socioeconômico e educativo
significa praticar muito mais atividades físicas e esportivas do que o restante
da população. Em contrapartida, as mulheres de baixo nível socioeconômico e
educativo, as pessoas idosas, as pessoas negras e as pessoas com deficiência
são a maioria entre os não praticantes.
Conforme o levantamento, pessoas
com rendimento mensal domiciliar per capita de cinco salários mínimos ou mais
praticam até 71% a mais do que a média das pessoas adultas no Brasil. Já o
grupo de pessoas sem nenhum nível de instrução pratica até 54% a menos que a
média das pessoas adultas.
“Esse não é um problema
exclusivamente do Brasil, em que as pessoas estão cada vez mais sedentárias”,
argumentou o professor de educação física, especializado em treinamento de alto
rendimento, Marcio Atalla. Segundo ele, a própria história da humanidade
explica um pouco a dificuldade de o ser humano sentir-se motivado a praticar
esportes.
“A origem do problema é o ser
humano, que é poupador. Se buscarmos a história, o ser humano sempre se
movimentou porque o meio ambiente exigia. Até o fim da década de 1980, as
pessoas tinham uma quantidade maior de movimento por viver sem celular,
computador, com poucas escadas rolantes, muito pouco controle remoto. Com muita
tecnologia, as pessoas passam a não se movimentar. No automático, por ser
poupador, o ser humano não vai se movimentar. Daí a importância de trabalhos
como esse do Pnud, que tentam mapear a situação para encontrar uma solução”,
disse Atalla.
Escola
De acordo com o levantamento,
somente 0,58% das escolas brasileiras é considerada Escola Ativa (classificação
pleno e avançado), enquanto 38,56% estão ainda no patamar insuficiente. Metade
das escolas está no nível elementar.
O relatório define Escola Ativa
como aquela em que a distribuição do tempo, da arquitetura e do mobiliário dos
espaços, das regras de conduta é mais apropriada para o estímulo e a prática
das atividades físicas. “A proposição da Escola Ativa, defendida na perspectiva
do desenvolvimento humano, trata de fazer da escola um local em que o mover-se
seja compreendido como uma capacidade valorosa na vida das pessoas”, afirma o
relatório.
Entre as escolas públicas, mostra
o estudo, quase metade (46,1%) está no nível elementar, enquanto 42% estão no
nível insuficiente. Entre as particulares, 61% estão no nível elementar e 24%
no nível insuficiente. No Brasil, 39% das escolas oferecem atividades físicas
extracurriculares e 20% abrem nos fins de semana para a prática esportiva.
Conforme o relatório do Pnud,
entre os estudantes de 13 a 17 anos, 29,2% fariam atividades físicas e
esportivas na maioria dos dias da semana se pudessem e apenas 5,9 não fariam,
mesmo que fosse possível.
Como sugestão para melhorar os
índices de práticas esportivas no país, o relatório afirma que os governos, o
setor privado e as organizações da sociedade civil devem adotar políticas
públicas e iniciativas condizentes com a importância das atividades. “As
políticas de promoção de atividades físicas e esportivas não podem estar
focadas somente na responsabilização individual e na mudança de comportamento.
Diversas condições estruturais causam impacto nessa prática. Assim, as
políticas devem corrigir desigualdades, bem como pensar em soluções sistêmicas,
com ênfase na participação e no controle social”, diz o texto.
Para o Pnud, há uma alta “alta
concentração do investimento privado”, feito especialmente pela famílias.
Segundo o relatório, em 2013 as famílias investiram R$ 51 bilhões em esporte.
No mesmo ano, os clubes investiram R$ 4 bilhões e as empresas investiram R$
2,13 bilhões. Já o financiamento público ficou em R$ 590 milhões, por parte do
governo federal, R$ 2,37 milhões das secretarias estaduais e R$ 1,39 milhões
das secretarias municipais.
“A ausência do Estado no fomento
ao esporte de participação obriga as pessoas interessadas a recorrer ao mercado
e pagar para ter acesso a essas práticas”, diz ainda o estudo.
Repórter: Ivan Richard
Edição: Graça Adjuto
Agência Brasil
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