Apesar
do cenário de melhora, pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil defendem
que ainda é preciso avançar mais na vacinação e chegar a 70% da população com
esquema completo de vacinação antes de flexibilizar as medidas de prevenção de
forma mais contundente.
O
epidemiologista e pesquisador em saúde pública da Fiocruz Raphael Guimarães
destacam que o progresso da cobertura vacinal é o principal responsável pela
tendência consistente de queda nas internações e óbitos observada no segundo
semestre deste ano, mas alerta que a circulação de pessoas nas ruas já retornou
ao nível pré-pandemia.
"Analisando
os números de forma mais fria, diria que é um bom momento, talvez um dos
melhores que a gente já atravessou", disse, ressaltando, porém que o
alívio não prejudique as medidas de prevenção, como usar máscara, evitar
aglomerações, higienizar as mãos e se vacinar.
"Falar
em um bom cenário traz sempre um pouco de esperança para as pessoas, mas é
preciso que elas compreendam que um cenário melhor não significa que a pandemia
está vencida. Elas podem se sentir um pouco mais aliviadas porque estamos vendo
progressivamente a melhora na situação sanitária, mas não significa que é o
momento de relaxar geral. É ter um alívio com responsabilidade".
Uma
flexibilização mais segura das medidas restritivas requer uma cobertura vacinal
que alcance ao menos 70% a 80% da população, na opinião do pesquisador da
Fiocruz.
Segundo
o painel de dados da fundação, o Brasil tem hoje 47,2% de sua população
totalmente vacinada e 70,31% que tomou ao menos a primeira dose. Diante disso,
ele reforça a importância de completar o esquema vacinal com as duas doses e
ainda a dose de reforço para os casos em que ela for prevista. O
epidemiologista acrescenta que a recomendação da vacinação independe de a
pessoa ter tido covid-19 previamente. "Não existe nenhum estudo que diga
de forma contundente que ter covid-19 no passado garanta imunidade permanente.
Tanto é que temos muitos e muitos casos de notificação de pessoas que tiveram
covid-19 mais de uma vez".
Apesar
de o principal impacto da vacinação ser nos óbitos e internações, o
epidemiologista acrescenta que as vacinas estão retardando a circulação do
vírus. A média móvel de novos casos de covid-19 também está em queda
progressiva desde junho, o que Guimarães relaciona à vacinação dos mais jovens,
que são a população que mais circula e contribui para a disseminação do
vírus.
Feriado
Guimarães
acredita que, devido ao feriado prolongado de 12 de outubro, pode haver uma
oscilação da média móvel para cima nos próximos dias, o que não compromete a
avaliação de que a tendência é de queda. "Sempre que tem feriado, a gente
acaba tendo um pouco de defasagem na notificação. A gente espera que na média
móvel a gente possa ter um aumento discreto nos próximos dois dias, mas isso
não vai impactar na tendência".
O
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo,
concorda que o feriado pode ter contribuído para acentuar a queda de óbitos nos
últimos dias. "Por causa do feriado, pode demorar a acontecer o registro
de casos e dos óbitos, e isso pode impactar um pouco para baixo, mas seria um
desvio padrão pequeno em relação ao que a gente está vendo na série toda",
minimiza, lembrando que o fim do inverno e o início da primavera também ajudam
na redução de doenças de transmissão respiratória.
Chebabo
disse não ter dúvidas de que o Brasil vive hoje o momento menos grave da
pandemia da covid-19 desde que o vírus se espalhou e começou a causar um grande
número de casos no país, em abril de 2020. Ele acrescenta que também não há
dúvidas de que a vacinação é a principal explicação para a melhora.
"Se
não fossem as vacinas, a gente ainda teria uma população suscetível muito grande
no país podendo se infectar. A vacina que fez essa mudança de transformar
grande parte dessas pessoas que eram suscetíveis em pessoas menos
suscetíveis", disse. Ele destaca que a proteção conferida pelos
imunizantes é mais potente e duradoura que a da própria infecção natural, o que
justifica a recomendação de que mesmo as pessoas que já tiveram covid-19 devem
se vacinar.
O
infectologista reforça que o patamar de imunização necessário para medidas de
flexibilização, como a liberação de máscara em alguns ambientes fechados, é de
70% a 80% da população totalmente vacinada. "Quando estamos falando de
esquema completo, é a terceira dose do idoso também", esclarece. "Aí
a gente vai ter uma situação mais confortável e um menor risco de ter recaídas,
mesmo que sejam pontuais em alguns estados e locais".
Por
Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Foto:
Bruno Esaki/Agência Saúde
Edição:
Fernando Fraga
NOTÍCIA CRISTÃ
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